As casas de colmo de Santana são consideradas a maior imagem de marca da Madeira, como tal, a sua preservação é uma prioridade. Neste sentido, nos terrenos públicos têm sido efetuadas plantações de trigo e de centeio, de forma a produzir a matéria-prima (o colmo) necessária à colmatação das casas. Esse colmo é utilizado para a cobertura das casas de colmo públicas e algumas privadas, quando solicitada a colaboração por parte dos proprietários.
Tudo sobre as Casas de Colmo
Os materiais de construção:
O colmo, seja de trigo, de centeio ou de outra variedade, é um dos materiais mais antigos utilizados na cobertura de habitações em todo o mundo. No concelho de Santana, apesar de se ter iniciado a utilização dos telhados em alvenaria, as coberturas a colmo foram, até há cerca de 60 anos, a opção preterida da população, sobretudo daqueles com fracos recursos económicos. Para além do colmo, eram utilizados outros materiais naturais: o vime, as varas e a madeira, por serem de fácil aquisição.
O Colmo
As culturas cerealíferas foram introduzidas no arquipélago da Madeira durante o seu povoamento, iniciado provavelmente em meados do século XV. O trigo, pela sua maior versatilidade, passou a ser a cultura mais produzida. Algumas variedades de trigo perpetuaram ao longo dos tempos devido aos seus atributos produtivos e às caraterísticas típicas dos colmos. As variedades de trigo ideais para a colmatação devem apresentar caules de porte alto, linear e robusto, resistentes à acama. A sua precocidade também é um dos fatores que teve muita influência na seleção. Atualmente fazem-se sementeiras de trigo das variedades regionais “branco” e “galhoto”.
A sementeira faz-se normalmente durante a estação de inverno e a colheita do trigo e recolha dos colmos faz-se na época do verão. De salientar que a colheita do trigo terá de ser feita à mão pois os colmos devem ser arrancados sem os quebrar e orientados o mais paralelamente possível.
Campo de Trigo
Colheita do Trigo
Os Vimes
Os vimes são outro dos materiais naturais que desde cedo têm sido utilizados na manufatura, sobretudo de cestaria e de móveis, por ser uma matéria-prima maleável e de grande flexibilidade.
A sua utilização na construção das casas de colmo tem um papel crucial, pois servem para amarrar as varas que comprimem o colmo à estrutura de base, as ripas. Os vimes são assim utilizados para os “pontos”.
Como tal, são utilizados vimes com cerca de 2m de altura, com cerca de 2cm de diâmetro. São colocados a secar, passando pelo fumeiro. Quando já estiverem secos, devem ser colocados na água durante sensivelmente 14 dias. Todos estes processos são essenciais para que os vimes fiquem com maleabilidade suficiente para a amarração.
Preparação do Vime
Uso do vime na fixação das varas
As Varas
Normalmente de folhado ou de urze, por serem mais uniformes e resistentes, são utilizadas, na horizontal, sobre e entre as várias camadas do colmo, para contribuir para compactar a cobertura.
Colocação das varas durante a colmatação
A Madeira
Inicialmente a madeira era utilizada para toda a estrutura da casa de colmo, desde a armação ao frontal. Gradualmente, os frontais começaram a ser construídos com materiais mais resistentes como os blocos revestidos a cimento, mantendo-se a madeira para a armação.
Armação em Madeira
Dimensões:
Atualmente, o tipo de construção mais usual em Santana é a casa de empena ou de meio fio, por ser a de mais fácil manutenção. Mas em tempos, vários foram os modelos de casas cobertas a colmo existentes. Assim, não podemos afirmar que todas as casas têm a mesma dimensão, nem o mesmo aspeto. Existe um modelo, mas no que concerne a dimensão, cada proprietário construía a sua habitação consoante o terreno que possuísse e as suas necessidades.
Desta forma, as dimensões apresentadas são de referência:
- Largura: 4,64m
- Comprimento: 7m
- Ângulo: 60º
- Altura: 4,4m
Alçados:
Alçado Frontal
Alçado Tardoz
Alçado Lado Direito
Alçado Lado Esquerdo
Plantas:
Planta do rés do chão
Planta de cobertura
Vantagens das Casas de Colmo:
- Construção leve e de rápida execução;
- Ótima ventilação;
- Materiais de construção de fácil aquisição.
A colocação da palha
A forma tradicional de cobertura das casas consiste em colocar o colmo na vertical começando de baixo para cima. Os maranhos são dispostos uns junto aos outros e sobrepostos, para assegurar o isolamento.
Sobre os feixes são colocadas as varas na horizontal, que são amarradas com os vimes, comprimindo a palha para que não se solte. Esta primeira camada tem sensivelmente 15 cm de espessura e pode ser feita com palha de centeio, por ter um aspeto mais regular.
No final da cobertura, na cumeeira, são feitos os “bonecos”. Estes “bonecos” têm como função proteger os últimos “pontos” que foram feitos com os vimes, para que estes não se degradem facilmente.
Concluído o processo de cobertura, é necessário aparar a palha, para que fique com um aspeto mais homogéneo.
O “telhado” apresenta uma inclinação média de 60 graus, que varia consoante a área da habitação. A inclinação é acentuada, de forma a garantir o eficaz escorrimento das águas das chuvas, impossibilitando a sua infiltração para o interior. A forte inclinação é também um fator determinante para garantir a máxima durabilidade do colmo.
Preparação da palha para a colmatação
Colocação das primeiras camadas de palha
Camadas finais da colmatação
Estas técnicas de cobertura são delicadas e exigem a maestria e a prática de homens experientes.
Manutenção
Os materiais utilizados na construção das Casas de Colmo são perecíveis e exigem uma manutenção regular. Dependendo da qualidade do colmo e das temperaturas que se fizerem sentir, deverá ser efetuada uma substituição parcial do colmo que está mais estragado. Essa substituição pode ser realizada de 4 em 4 anos, ou de 5 em 5.
Substituição do colmo de uma Casa Típica
Raramente se procede a uma mudança integral da cobertura não só por ser mais dispendiosa, mas também porque se as mudanças parciais forem eficientemente efetuadas, a camada de colmo interior não se deteriorará.
Referências consultadas
- Mestre, Victor, Arquitectura Popular da Madeira, Argumentum, Edições Estudos e Realizações, Lisboa, 2002.
- Ribeiro, João Adriano, Santana – Homens e Assuntos que a Ilustram, Câmara Municipal de Santana, Santana, 2001.
- Ribeiro, João Adriano, Santana – Memórias de uma Freguesia, Junta de Freguesia de Santana, Santana, 2002.