A localização geográfica e as condições edafoclimáticas da Madeira permitem a existência de complexos e variados ecossistemas terrestres, que se traduzem em diversos habitats capazes de albergar exemplares de flora em número e diversidade significativos, resultando numa floresta pluriestratificada e rica em biodiversidade.
A Laurissilva da Madeira compreende vários andares de vegetação, encontrando-se estruturada em cinco bioclimas que variam consoante a altitude e exposição norte ou sul.
Junto ao litoral a vegetação é maioritariamente xerófita e toma a designação de Zambujal, uma vez que é dominada por Zambujeiros (Olea europaea L. ssp. Maderensis ), seguindo-se em altitude as outras “laurissilvas” que constituem comunidades florestais designadas consoante a espécie dominante, surgindo então por ordem a Laurissilva do Barbusano, a Laurissilva do Vinhático e a Laurissilva do Til e por último, a floresta dá lugar ao Urzal de altitude [1].
Urzal de altitude do Maciço Montanhoso Central.
Nesta floresta predominam árvores de grande porte pertencentes à família das Lauráceas, como o Til (Ocotea foetens), o Loureiro (Laurus azorica), o Vinhático (Persea indica) e o Barbusano (Apollonias barbujana).
A estas árvores associam-se outras de diferentes famílias como é o caso da Faia (Myrica faya), do Azevinho (Ilex canariensis) e do Folhado (Clethra arborea), bem como o endémico Aderno (Heberdenia excelsa), Pau-Branco (Picconia excelsa) e o raríssimo Mocano (Pittosporum coriaceum).
No estrato arbustivo é de salientar os urzais (dominados por Erica arbórea e Erica scoparia), a uveira (Vaccinium padifolium),o piorno (Genista tenera) e o sanguinho (Rhamnus glandulosa), sendo que em termos de endemismos destaca-se, pelas suas particularidades evolutivas, o Massaroco (Echium candicans) e a figueira-do-inferno (Euphorbia mellifera).
Massaroco , um dos endemismos mais emblemáticos da Laurissilva da Madeira.
Rica em espécies florísticas, esta comunidade florestal encerra ainda elementos endémicos herbáceos de beleza singular como as passas (Geranium palmatum), a douradinha (Ranunculus cortusifolius subsp. major), a erva-coelho (Pericallis aurita), a isoplexis (Isoplexis sceptrum) bem como, a raríssima Orquídea-da-serra (Dactylorhiza foliosa) e a Orquídea-branca (Goodyera macrophylla).
Exuberantes lianas, como o alegra-campo (Semele androgyna e Smilax pendulina) e a hera endémica (Hedera maderensis subsp. maderensis), são também elementos comuns neste tipo de floresta.
O estrato inferior de vegetação constitui um dos mais significativos da Laurissilva, quer em biodiversidade, quer em área de cobertura encontrando-se em praticamente todos os tipos de habitats terrestres existentes na ilha.
Os peridófitos (fetos) abundam pelos vales profundos, destacando-se de entre os endemismos e pela raridade o Feto-arbóreo (Culcita macrocarpa).
Os briófitos (musgos), cobrem grandes superfícies, caracterizando-se por uma enorme diversidade e apresentando uma elevada taxa de endemismos madeirenses como é o caso dos musgos Fissidens nobreganus, típicos da casca do Til, o Thamnobryum fernandesii, que ocorre nas cascatas e as hepáticas, Porella inaequalis e Tylimanthus madeirensis, extremamente raras.
Briófitos epífitos na Laurissilva
Estas plantas desempenham um importante papel no ecossistema, especialmente na manutenção do equilíbrio hídrico devido à elevada eficiência na retenção de água, no ciclo de minerais e na produção de biomassa.
O coberto vegetal do Maciço Montanhoso Central caracteriza-se, essencialmente, por flora vascular de altitude (acima dos 1.300 metros) representando cerca de 54 espécies endémicas [2] de que são exemplo a estreleira (Argyranthemum pinnatifidum subsp. montanum), a urze rasteira (Erica maderensis), o hissopo (Micrometria varia subsp. thymoides) e o alecrim-da-serra (Tymus micans).
Urze rasteira
Os briófitos nesta zona cobrem grandes áreas e como tal desempenham importantes funções na dinâmica dos ecossistemas, destacando-se a estabilização do solo.
Na Reserva da Rocha do Navio a flora caracteriza-se por vegetação endémica das costas macarronésicas, albergando ainda vários endemismos madeirenses como o massaroco (Echium nervosum), o ensaião (Aeonium glandulosum) e a figueira-do-inferno (Euphorbia piscatoria), com particular destaque para a espécie de zimbreiro (Juniperus sp.) que para além da sua raridade atingiu, nesta área um dos maiores portes de que à conhecimento.
Ensaião, uma das espécies endémicas das costas macarronésicas.
Referências
- [1] - Secretaria Regional do Ambiente (SRA), Direcção Regional de Florestas, 50 anos a servir a Floresta, Funchal, 2003.
- [2] - Secretaria Regional do Ambiente (SRA), Madeira Paraíso Natural, Funchal, 2011.
Outras referências consultadas
- NEVES, Henrique Costa & al, Laurissilva da Madeira, Parque Natural da Madeira, Funchal, 1996.
- Secretaria Regional do Ambiente (SRA), A floresta Laurissilva da Madeira – Património Natural, Funchal, 2004.
- Silva, Joaquim Sande, Árvores e Florestas de Portugal – Madeira e Açores, Fundação Luso-Americana para o desenvolvimento, Lisboa, 2007.